sábado, 3 de abril de 2010

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

“Assistir a este filme já é, em si, um fabuloso destino.”
Victor Tanaka


Victor Tanaka não gosta de esticar o braço para o ônibus parar, não gosta de pessoas que falam mal dos filmes que gosta mesmo sem terem visto e não gosta de dormir cedo. Victor Tanaka gosta de cantar debaixo do chuveiro, gosta de assistir filmes de madrugada e gosta de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.

Um dos problemas e erros mais comuns dos filmes atuais é não conseguir criar uma boa personagem, uma pessoa carismática com a qual o público simpatize e pela qual os espectadores torçam para que seja feliz no fim. Muitos tentam criar uma personagem realmente adorável, mas não conseguem, geralmente por não se aprofundarem o bastante ou não conseguirem sintonizar suas emoções, o que não é o caso de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.

Audrey Tautou foi indicada ao César e ao BAFTA após conquistar o mundo como essa alegre personagem, que foi criada sozinha quando criança, longe de outras crianças para brincar ou conversar, e por isso acabou tendo problemas para se relacionar quando se tornou uma adulta. Mas isso não a deixa abater, e após se apaixonar por um homem que trabalha meio-período numa sex shop, decide fazer um jogo para que ele a conheça sem precisarem se encontrar, assim como tenta mudar a vida de todos a sua volta do jeito mais inteligente possível. Amélie gosta de enfiar a mão num saco com grãos de feijão e de quebrar a crosta de um crème brulée com a ponta de uma colher.

Antes de qualquer coisa, é interessante lembrar que, na apresentação de cada personagem, o narrador (sim, o filme possui uma interessantíssima narração em off) conta alguma coisa de que este goste ou não, o que já dá ao espectador uma ideia sobre sua personalidade. Por exemplo, a mãe de Amélie não gosta quando seus dedos enrugam no água quente mas gosta de limpar o chão de sua casa com a sola de sua pantufa. Isso já nos mostra que esta é uma mulher que vive reclamando de muitas coisas e difícil de agradar, mas que possui uma enorme mania de organização e limpeza: uma crítica às pessoas assim, que reclamam de coisas pequenas da vida e não gostam de ver nada fora do lugar em sua casa. Essa introdução aos personagens, além de ser original e engraçada, é uma crítica a diversas pessoas da sociedade e ótima para nos apresentá-los sem usar um modo apelativo. E foi baseado nisso, que comecei a crítica falando sobre algumas coisas que gosto e que não gosto.

Mas é claro que, de tudo isso, Amélie é a personagem mais bem construída. Sua simpatia, sua presença agradável, sua alegria e sorriso macabro, conseguem nos passar de modo complexo como se sente a cada momento, o que pensa, o que reage. Acaba conquistando a todos com seu modo de pensar e resolver as coisas, seu modo solidário de ajudar a todos, seja a quem for, tanto a seu pai e ao vizinho, quanto sua amiga, o ex-namorado da amiga, a dona do estabelecimento onde mora. E tímida como é, conquista um homem que conhece. Outra diferença dos outros filmes (como, por exemplo, a já citada narração em off) é que este é uma comédia romântica em que os dois apaixonados não se encontram durante o filme todo. O humor sutil do filme é simples, bem simples. Não há humor ácido, não há humor negro e não é recheado de ironias, não são contadas piadas gratuitas a todo o momento. Portanto, pode não ser uma grande comédia devido ao seu humor básico, mas é divertido. E pode ser muito engraçado para aqueles menos

A trilha sonora é charmosíssima e alegre. Composta pelo grande músico Yann Tiersen (o mesmo de “Adeus, Lênin!”), combina muito bem com essa fábula moderna e com essa personagem brincalhona. É perfeita! Uma das coisas que mais chama a atenção é a exagerada, coloridíssima e maravilhosa direção de arte, com cores bem fortes e chamativas do filme todo, cujo tom variam ao longo da história, de acordo com os sentimentos da personagem.

A direção de Jean-Pierre Jeunet é brilhante! A França que ele cria é maravilhosa, o lugar perfeito para Amélie. Possui diversos aspectos surreais – a história em si é muito surreal, como os quadros que falam – só ajudam a acentuar a beleza do filme. Esse surrealismo pode ser incômodo ou esquipático para algumas pessoas, que não gostam disso, mas o filme viveria muito bem sem ele. Ele está lá mais como uma brincadeira, devido a acontecimentos absurdos (sim, durante o filme, acontecem coisas por vezes absurdas) e esquisitos. Portanto, como o próprio nome já diz, é um destino “fabuloso” (relativo à fabula).

Os personagens são de todos ótimos. Mas o que seria deles se não fossem esses atores competentes? Todos estão ótimos, desde a principal até os quase figurantes, que aparecem em duas cenas. A turma de coadjuvantes está esplêndida. De todas as excelentes interpretações, os destaques são Audrey Tautou (é claro – despensa comentários), Serge Melin, que nos conseguem passar com seu personagem os sentimentos de bondade e solidão, Urbain Concelier, que aqui faz exageradamente bem o papel do antagonista do filme e Isabelle Nanty, sensacional!

Quase nem preciso falar do roteiro do filme, pois durante o texto já falei tudo, como seu surrealismo, seu estilo de humor, portanto acho que já ficou tudo esclarecido e porque este é um filme altamente recomendável para aqueles que gostam de filmes leves, com um bom romance, uma boa história, ótimos personagens, um surrealismo especial, um lugar colorido, coadjuvantes com seus próprios conflitos, mensagens de solidariedade que são transmitidas em muitos momentos.

Vale lembrar que o pai de Amélie não gosta de olhar de desdém para suas sandálias, a mãe de Amélie gosta de tirar as coisas de sua bolsa, limpar e colocar tudo de volta no lugar, Amélie não gosta de quando os motoristas dos filmes dirigem sem olhar para a estrada e Victor Tanaka gosta de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.

AVALIAÇÃO
- Nota: 10


Um comentário:

Douglas Olive disse...

E Douglas gosta de Victor porque o senhor Victor sempre o faz rir! kkkkkkk