*Esse texto foi liberado pela Confederação Internacional dos Bruxos para a leitura entre trouxas.
Uma das críticas mais recorrentes a filmes adaptados de livros diz respeito à fidelidade literária. Alguns – os fãs – reclamam que o processo de ficcionalização desrespeita esse ou aquele detalhe, algumas cenas que foram cortadas na edição para poupar o filme de tons desnecessários, etc. Esse tipo de crítica, por si só, é rebatível com certa facilidade, pois exige da imagem audiovisual um trato diferente do material original (No caso aqui, a narrativa literária). Isso pode acontecer até mesmo na dificuldade do diretor em conseguir extrair do roteiro o seu filme! Alfonso Cuarón, o homem por trás da melhor ficção científica da década, o espetacular Filhos da esperança, não somente conseguiu retirar com brilhantismo das páginas do livro de J.K Rowling toda a essência sombria da história, como fez um feito até então inédito nos filmes do bruxo Britânico, o que mudaria a saga nos cinemas pra sempre: Ele soube como fazer um filme mágico, em alguns momentos.
Meu Deus, se a história é sobre magia, então o mínimo é fazer um filme mágico, é claro! Mas isso não foi tão óbvio para Chris Columbus, diretor de A pedra filosofal e A câmara secreta, que acabou ficando confuso com o riquíssimo mundo que ele tinha em mãos. Felizmente, o diretor mexicano tomou o controle e deu aos fãs um filme cheio de referências bem plantadas num contexto geral. Um filme seguro, com boas reviravoltas também, e tecnicamente muito superior aos outros dois, tendo recebido até uma merecida indicação ao Oscar 2005, de efeitos especiais, mas perdeu –merecidamente – para Homem-aranha 2.
Parece que tem alguém atrás de Harry Potter para matá-lo, um criminoso perigoso, foragido da prisão de segurança máxima de Askaban. Mas por que se Harry é só um garoto com um passado bem perturbador? O filme vai acertando as respostas para essa e outras perguntas com o tempo, usando o seu bom dinamismo também inédito nos filmes de Potter. Um bom exemplo é o ótimo uso das cenas em potencial no filme, como o primeiro magnífico vôo do Hipogrifo sobre o castelo de Hogwarts. Outro bom exemplo? A passagem das estações do ano, para representar o tempo durante o ano letivo na escola de Hogwarts, onde tudo acontece – e um pouco mais além. É mostrado pela primeira vez o potencial dos atores adolescentes que estão bem mais crescidos do que nos filmes anteriores. Cada um tem seu espaço, sua importância e seu tempo bem definido na tela, apesar de alguns exageros de interpretação, tudo coroado com uma trilha sonora que consegue o feito de superar as melodias perfeitas de A pedra filosofal. Isso valeu outra indicação ao Oscar 2005, na categoria Trilha Sonora. Merecidíssimo, um deleite para os ouvidos, mas perdeu –injustamente – para Em busca da terra do Nunca.
Dementadores, Lobisomens, artifícios para quebrar o espaço-tempo, Hipogrifos, livros vivos e um ônibus de três andares especial, que os trouxas não podem ver pelas ruas. Todo esse universo é muito bem inserido com uma visão mais realista desse mundo tão específico, e isso não é fácil de fazer. Porém, apesar de todo o apogeu técnico temporário, e o avanço dinâmico e de maturidade que a série recebeu com esse exemplar, esse terceiro volume não consegue encontrar um público bem-definido, além dos fãs – Um filme tem que se comunicar com uma platéia maior, e quando ele não consegue isso, é claro que apela para o lado ou da comédia, ou da ação. Boa parte do cinemão Americano está partindo para isso sem razão alguma, e em 2004 esse filme já profetizava isso. Isso porque os diretores que estão fazendo esse tipo de cinema só conseguem se comunicar com a platéia que pensa igual a eles. Talvez Alfonso Cuarón foi obrigado a fazer isso, com um material reverenciado por milhares de fãs ao redor do mundo: Essa é uma boa desculpa!
De qualquer jeito, Harry Potter e o prisioneiro de Askaban merece respeito por quem é fã – ou por quem não agüentava mais o blábláblá anterior: Foi aqui que a longa saga começou a "crescer"!
NOTA: 8,5
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