sábado, 6 de fevereiro de 2010

A Felicidade Não Se Compra (1946)



Quantas vezes não temos vontade de nos matar? Quantas vezes já não sentimos vontade de desistir de viver por alguma coisa que aconteceu? Quantas vezes já quisemos ir embora sem nem pensar no que aconteceria à vida de nossos amigos e familiares? O que aconteceria com o mundo se nós nos matássemos? Faria alguma diferença? Sentiriam muito nossa falta? E se nós pudéssemos ver como o mundo ficaria se nós não existíssemos?

A Felicidade Não Se Compra, de Frank Capra, é considerada por muitos um filme maravilhoso e a obra-prima do diretor. Pode parecer superestimado demais, mas não é. É adorado e aclamado por pessoas do mundo inteiro por um bom motivo: o filme é lindo, tocante do começo ao fim, com uma belíssima história e interpretações espetaculares. Vamos começar do início.

O filme começa contando um pouco da infância de George Bailey, um garoto que desde criança foi muito bom com todos à sua volta, assim como os ajudava. Já salvou a vida de seu irmão mais novo, impediu um garoto de morrer envenenado, não deixou a empresa de seu pai ir à falência, não deixou muitas pessoas sem moradia ou dinheiro para sobreviver, assim como se casou com a mulher que amava e, juntos, ajudavam a todos que podiam, da forma mais caridosa e solidária, sem pedir nada em troca.

Os problemas começam quando George se vê com uma dívida enorme. E o pior é que está devendo para Potter, o banqueiro mais frio, cruel, agourento, avarento, egoísta, rígido, malvado e pilantra da cidade de Bedford Falls. Sem dinheiro para pagar, abandona a esposa e os filhos na véspera de Natal e se joga de uma ponte. Muitas pessoas da cidade, ao verem que um cidadão tão bom como ele está se suicidando, rezam para o céu querendo protegê-lo. E os anjos decidem escolher um para ir até lá e mostrar para Bailey que ele não deve se matar. O escolhido foi Clarence, um anjo que ainda precisa fazer uma boa ação para ganhar suas asas. E Clarence mostra para Bailey como o mundo seria se ele nem tivesse nascido.

A história não passa de um muito original conto natalino, que quase setenta anos depois de existir, ainda inspira diversos filmes, escritores, roteiristas, criadores entre muitas outras pessoas do mundo. Conseguiu até ficar em primeiro lugar da lista dos 100 Filmes Mais Inspiradores do American Film Institute (AFI). Isso mostra um pouco de sua genialidade. E tudo – quase, para falar a verdade - por causa de sua linda e magnífica mensagem que, por mais tempo que passe, e por mais tempo que o filme exista, nunca irá envelhecer. Continuará sempre lindo e com o status de obra-prima, e não é por menos.

A história é linda, linda, linda. Impecável, com um ótimo argumento, além de todo o sentimentalismo que contém. O começo, que conta a vida de George Bailey, não é nada menos que ótimo. A cena dele saindo de uma festa com sua “futura namorada” não é nada menos que maravilhosa, apaixonante e, é claro, clássica! E todo o resto, desde George Bailey casado até a última cena, com os personagens cantando a famosíssima canção Auld Lang Syne, formam um filme imortal e nada menos que um dos melhores que já existiu.

As interpretações são brilhantes. James Stewart dá tudo de si, construindo um ótimo personagem, controlando suas emoções na medida certa. Norma Reed está surpreendente como a esposa inocente e cuidadosa do personagem principal. Os dois juntos formam um dos melhores casais do cinema. Um completa o outro. Pode parecer clichê, mas os dois personagens nasceram sim um para o outro. E o roteiro mostra isso de forma magistral, sem ficar jogando isso na cara do espectador o tempo todo. Lionel Barrymore está detestável, o que é bom, pois esse é o motivo de seu personagem existir. Portanto, Barrymore é o que consegue, da maneira mais impiedosa e cruel, alcançar seu objetivo. E todos os atores coadjuvantes ótimos contribuem para essa magnífica história, mostrando que o roteiro não é tudo.

A trilha sonora é bem “capriniana”, o que é outro ponto muito mais que positivo. A trilha cria um clima alegre, natalino, e ao mesmo tempo triste e melancólico, apaixonante. A fotografia também é maravilhosa, assim como a impecável direção de arte, os figurinos e os outros bons quesitos da parte técnica. Sim, o filme consegue o feito de conseguir ter todas essas qualidades.

Faltou falar, é claro, do que não poderia faltar: a direção simples, caprichada, romântica e clássica do mestre Frank Capra, que consegue criar um filme delicioso de se acompanhar. Capra aqui mostra tudo o que é capaz, seus esforços,sua genialidade, sentimentalidade. Essa é com certeza sua obra-prima, que contém todas as suas características marcantes, como os personagens inesquecíveis, os diálogos impressionantes, aquele clima açucarado (adoro coisas açucaradas!) sobre a família e o Natal, além de pequenos detalhes se tornarem muito importantes para uma história mais complexa do que parece. Portanto, os desatentos que se cuidem, pois os pequenos detalhes, aqui, fazem toda a diferença. Os personagens são todos muito bem feitos, assim como o já dito George Bailey, que nos faz torcer por ele optar pela vida até o final.

O final do filme é o que há de melhor. A última cena é linda demais, provocando uma mistura de sentimentos como amor, alegria e emoção. Como eu já disse, a música que toca combina muito bem com tudo. E é aí que percebemos que nossos melhores amigos nunca nos abandonam e como não devemos reclamar da vida, pois há coisas bem piores. E o modo como ele acaba, o modo como a tela vai escurecendo e como os sinos tocam junto com o “The End”, nos dá vontade de rever mais uma vez, pois é um final que muitos gostariam de ver e rever muitas vezes, e até consegue levar muitos ao choro.

E aí está a grande mensagem do filme. A vida é bela! Devemos parar de nos preocupar com pequenas coisas e ser felizes. Se tivermos um problema um pouco maior, não ligue, já vai passar e todos seremos vitoriosos. E se nós formos pessoas boas, com certeza ganharemos muitas coisas em troca. Tem algo mais bonito que isso?

Então, A Felicidade Não Se Compra é o filme de Natal que conseguiu ter maior qualidade e conquistar pessoas, cinéfilos e críticos sem precisar de um Papai Noel. Tudo isso e muito mais são os feitos que esse filme incrível conseguiu! Fantasticamente bem elaborado nos mínimos detalhes, esse clássico natalino de Frank Capra não deve ser esquecido – e não será – e continuará conquistando milhares e milhares de gerações com sua mensagem de paz e a amor e suas inúmeras qualidades e sem nenhum defeito aparente, que tornam esse uma obra-prima magistral genial e mágica do cinema.

Nota: 10


"À medida que conhecia George, cada vez gostava mais dele. Ao princípio, achava-o um infeliz que tinha ficado preso à sua terra. Mas o homem mostrou ser uma excelente pessoa, amiga de toda a gente, e até corajoso para lutar contra o homem que dominava a cidade (que, curiosamente, se chamava Henry Potter). George foi uma espécie de Mahatma Gandhi."
Paulo Faria Esteves

3 comentários:

Danielle Crepaldi Carvalho disse...

Colega, de pobre coitado você não tem nada! Seu blog é muito legal! Este filme é uma maravilha mesmo. Curiosamente vi-o novamente na semana passada. Eu estou gostando mais do James Stewart a cada filme que vejo com ele!

Até mais!
Danielle

Kley disse...

Esse filme está em meu top 10. Obra-prima incontestável. Belo texto, Victor.
Um abraço!

Unknown disse...

E ai Tanakinha, belo blog esse seu, ótima critica para meu filme preferido, muito boa mesmo.
PS: coloca umas partes rosas no layout do blod :D
Xaus