Clint Eastwood faz parte do escasso time de diretores que sempre conseguem colocar na tela suas verdadeiras ambições. Seja por que eles têm o devido merecimento por tempo de serviço, seja porque suas visões são fortes demais para serem domadas por produtores ambiciosos que tem medo de insultar o público por qualquer coisa "politicamente incorreta". Clint Eastwood sempre está no controle de tudo, imparcial e elegante no seu exercício como o mestre que é. Foi assim com Os imperdoáveis, clássico do western por injetar elementos novos no gênero, e pelo qual ganhou seu primeiro Oscar de direção. Foi assim também com Menina de ouro, aonde o Clint ator rivaliza seu talento com o Clint diretor em um dos melhores filmes de boxe de todos. Ao retratar a batalha verdadeira de Iwo Jima, o diretor não opta por patriotismo Americano, não opta por um estilo documental, mas prefere o caminho mais difícil onde certamente acharia melhores resultados no produto final. - fico imaginando o quanto Eastwood teve de brigar com os produtores que com certeza tiveram medo do longa não ser muito patriota no lado ocidental, e ser mal recebido por público e crítica. Graças a Deus não era um covarde no comando.
Sendo assim, Cartas de Iwo Jima não passa a mão na cabeça nem do Japão nem dos Estados Unidos, não vai em busca do certo ou errado, pelo contrário, expõe as fragilidades das duas nações durante a batalha épica: É completamente imparcial! Durante a segunda Guerra mundial, em 1945, tropas americanas invadiram a pequena ilha de Iwo Jima para avançarem para o resto do território japonês com bombardeiros e mais de 80 navios, prontos para atacar os 22 mil soldados japoneses. Desde o início fica completamente claro quem vai perder a guerra, e mesmo assim, algo os move na carnificina: Honra! Nem assim Clint Eastwood deslancha para o patriotismo barato, expondo esse sentimento de maneira nobre em cada ação de um soldado imperial. Essa honra e moral avassaladora são munidas pelo esperto tenente-general Tadamichi Kuribayashi, interpretado com maestria por Ken Watanabe, recentemente visto em A origem. É Kuribayashi que impulsiona seus frágeis e despreparados homens para o olho do furacão, sem ser falso com eles, gritando a todo o momento para eles não nutrirem esperanças de voltarem vivos para a casa. Não foi uma guerra, foi um pequeno holocausto oriental. Hoje, tantos anos depois, o retrato verídico dessa história foi co-escrito por uma mulher, Iris Yamashita, um roteiro humano (Isso não quer dizer sentimentalista) e acima de tudo honesto, respeitando os fatos históricos com todas suas situações fortes sabiamente encaixadas entre os personagens que, ironicamente, estavam mais perdidos do que cego em bombardeio. O roteiro perdeu – devo admitir que justamente – para o tão fantástico roteiro de Pequena Miss Sunshine, no Oscar 2007.
Para aprofundar os dois lados da mesma guerra, Eastwood fez A conquista da honra, mostrando o fato do ponto de vista norte-americano. Sem comparações, mas só uma observação: Se fosse Spielberg o realizador, seria um segundo O resgate do soldado Ryan com milhares de takes da bandeira vermelha e azul do país, em todos os ângulos, em todas as horas para simbolizar a hierarquia do Tio Sam. A Conquista tem seu valor histórico, é claro, mas o ponto de vista oriental encanta mais com um retrato sem fronteiras sobre os perdedores do massacre, afinal eles só estavam defendendo o que era deles! Cartas de Iwo Jima foi indicado a vários prêmios, inclusive ganhando o Globo de Ouro de Melhor filme estrangeiro e um merecidíssimo Oscar de edição de som – o som é espetacular, um dos melhores sons da década passada, talvez junto da sonoplastia de Transformers e O cavaleiro das trevas. Quem tem um belo home theater em casa pode se divertir com os barulhos de batalha, mas nunca pode fugir dos verdadeiros prestígios de um dos melhores filmes do veterano cineasta que assim como Woody Allen, só envelhece por fora pra nossa sorte.
(Nota: 10)
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