quinta-feira, 2 de junho de 2011

O Cinema de Stanley Kubrick

Matéria iniciada por Pedro Neto e finalizada por Douglas Olive
Um dos maiores gênios que o cinema já viu, de estilo único e com sua própria maneira de enxergar a vida, Stanley Kubrick se consagrou como diretor produzindo algumas das maiores obras-primas cinematográficas da história. E por isso estarei comentando sobre toda a sua filmografia:


Day of the Fight (1951) Kubrick era amante do Boxe, por isso ele usou esse tema para o seu primeiro filme, um curta que mostra o dia de um boxeador. A cena da luta foi filmada a partir de uma luta verdadeira, na qual o nocaute não foi filmado por Kubrick e sim por seu assistente. Mesmo nesse primeiro filme já se via características do diretor, uma delas é o fato do filme possuir narração em off (o que seria muito usado pelo diretor em seus próximos filmes).


Flying Padre (1951) Este filme é um pequeno documentário que mostra a vida do reverendo Fred Stadtmueller. Como no filme anterior, Kubrick também utiliza narração em off, o que é o único destaque desse curta.








Medo e Desejo (1953) Este foi o primeiro longa do diretor, na qual ele se envolveu totalmente. O filme, que conta a história de quatro soldados que caíram em território inimigo, consegue criar leve suspense, mas não é um longa profissional e apenas trouxe um pouco de reconhecimento para Kubrick, o que o ajudou a produzir o seu próximo filme.







A Morte Passou Por Perto (1955) Neste filme kubrick começou a mostrar o seu potencial como diretor e sua habilidade no uso da iluminação e em cenas de tensão. A Morte Passou Por Perto possui cenas muito bem filmadas, como por exemplo a da perseguição, que realmente é muito boa. O filme de Kubrick também chamou a atenção do produtor James Harris, que então formaram a Harris-Kubrick Pictures.



O Grande Golpe (1956) Esse é considerado por muitos a primeira obra-prima de Kubrick. O filme, que possui um brilhante e complexo roteiro, conta a história de um plano perfeito e pensado nos mínimos detalhes para roubar 2 milhões de dólares. O que o filme nos mostra é que nada pode sair perfeito, o acaso sempre dita as regras da situação, o exemplo disso é a maravilhosa cena final.
Infelizmente O Grande Golpe não foi um sucesso comercial, porém o maravilhoso roteiro fez crescer a reputação de Kubrick e Harris.
Glória Feita de Sangue (1957) O verdadeiro horror da guerra é mostrado com muito realismo nesse grande filme. Nenhum filme sobre guerra até aquele momento foi tão cruel e bem filmado quanto este, que narra a história de soldados que foram executados por causa do fracasso nas trincheiras. Kubrick produz um filme humano, que por retratar negativamente os oficiais franceses, infelizmente ficou fora da França quase 20 anos. Mas graças a esse filme Kubrick foi notado por Hollywood.
Spartacus (1960) Neste filme Kubrick não tinha total controle da produção como em seus trabalhos anteriores. Ele não estava feliz pois as coisas não eram do seu jeito, mesmo assim Spartacus se tornou um maravilhoso épico. O filme é famoso por suas cenas de lutas impressionantes e pela direção de arte. O filme foi um sucesso de público e crítica, Kubrick teve seu primeiro contato com o Oscar e Spartacus levou 4 estatuetas (Ator Coadjuvante, Figurino, Fotografia e Direção de arte).
Depois de Spartacus, Kubrick então resolveu que teria total controle sobre seus filmes posteriores.
Lolita (1962) Adaptado de um livro proibido nos EUA e no Reino Unido e publicado como pornográfico em Paris, Lolita possuía um tema bastante controverso sobre pedofilia. Kubrick achava o livro fantástico e por isso resolveu adaptar para o cinema, o resultado foi um filme ousado. A história é sobre um homem de meia-idade que se apaixona pela filha de uma viúva. Na época Lolita foi condenado pela Igreja católica, e isso atrasou o lançamento em seis meses, para lançar o filme Kubrick teve que remontá-lo e o sucesso de bilheteria aumentou ainda mais a polêmica. O filme foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.
Dr. Fantástico (1964) Um dos filmes mais aclamados do diretor e considerado uma das maiores comédias de todos os tempos, o filme é uma sátira com bastante humor negro, tipo de humor que viria a afetar seu futuro projeto, Nascido para matar.





2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) Este filme é um marco no cinema, é a evolução cinematográfica, o único filme que ultrapassa os limites da imaginação e do cinema! Kubrick se consagra como um dos maiores diretores de todos os tempos numa parceria com o escritor de ficção científica Arthur C. Clarke. O filme mostra teorias sobre o futuro e evolução da humanidade, por isso inicia-se na Pré História onde habitavam apenas seres primários. Kubrick, então, salta milênios, quando o ser humano está no ápice de sua evolução, o planeta já foi dominado, porém no espaço o homem precisa aprender tudo novamente. Mas alguma coisa está errada, o ser humano está perdendo o controle de suas próprias máquinas, e assim HAL 9000 (um dos maiores vilões do cinema) quando descobre que vai ser desligado se rebela contra o seu criador. Mas HAL 9000 não consegue impedir o seu desligamento e assim o homem vence mais um passo na evolução. E é em outra dimensão onde o último desafio será enfrentado, o homem precisa vencer sua própria morte, e com o seu corpo deixado de lado, a criança estrela nasce, pois essa é a evolução máxima do ser humano.
2001: Uma Odisséia No espaço é um espetáculo cinematográfico, o filme possui as cenas mais realistas do espaço já criadas, os efeitos visuais que Kubrick e sua equipe produziram foram um marco para o cinema. No filme tudo foi imaginado, pois no ano de 68 não se sabia como era o espaço e nem como era o planeta Terra visto do espaço, por isso tudo tinha que sair da imaginação, e o que eles fizeram foi impressionante, tamanha a perfeição.
Na pré-estréia do filme, o público não o entendeu e por isso saíram às dezenas, Kubrick afirmou que exatamente 241 pessoas saíram na metade, algumas pessoas diziam ser o fim da carreira de Kubrick por criar o maior filme já feito, mas claro, na época eles não perceberam isso.
2001 foi indicado a alguns Oscars (Deveria ter levado todos por sua extrema qualidade), levando apenas o de Melhores Efeitos Visuais pelos efeitos revolucionários que iriam ser copiados e aprimorados por George Lucas, em Star Wars.
Uma produção que muitos consideram a obra-prima do mestre, enquanto outros acham que é 2001, acima. Seja como for, é uma obra-prima inquestionável do cinema, cada vez mais atual e imortal. Ironicamente, a história se passa num futuro caótico, onde a violência é tão comum quanto nos dias de hoje, ou talvez pior. A história gira e torno do jovem Alex De Large, interpretado com maestria pelo subestimado ator Malcolm McDowell. Ele e mais três garotos rebeldes e inconseqüentes que usam um idioma próprio entre eles formam um quarteto de estupradores e assassinos com princípios completamente errados pelos olhos da sociedade - eles invadem uma casa e estupram uma mulher ao som de "Singing in the rain", sequência clássica... -, princípios que os levam conseqüentemente a um precipício... Laranja mecânica jamais é maniqueísta ou raso, pois assim como o livro, tem identidade própria e é uma das melhores adaptações do cinema, com uma mensagem simples: "Quando um ser humano perde a capacidade de escolher o que deseja fazer (mesmo que seja um mal aterrador), deixa de sê-lo."
Depois de realizar obras-primas do cinema, qualquer diretor abaixaria o nível e faria apenas bons filmes, certo? Mas não Kubrick, pelo simples motivo que ele não foi um "qualquer diretor". Ele nunca escondeu sua ambição e sua paixão pela arte que nós também, pobres cinéfilos, também temos. A forma como ele ousou filmar Barry Lyndon foi tão ambiciosa ao ponto de usar uma lente especial feita para a Nasa, para filmar cenas noturnas a luz de velas. Barry Lyndon traz a história de vida do jovem irlandês Redmond Barry e todas as suas experiências, boas e ruins, ente a aristocracia britânica e a guerra durante sua jornada de vida. Baseado na obra de William Makapeace Thackeray, o filme é uma ópera visual, com excesso do efeito de zoom lento - algo inovador para a época, além de contar com uma narrativa afiada que serve para um ótimo estudo de personagem, visando a personagem principal, Barry. Narrativa afiada e espetáculo visual... Não é preciso muito mais.
A matemática é simples: Jack Nicholson + Kubrick + adaptação de um ótimo suspense psicológico de Stephen King, qual seria o resultado? Nada mais nada menos do que um dos melhores filmes de terror da história, com momento iconográficos e de uma maestria inquestionável para um diretor que, até então, já era considerado um dos melhores de todos. A sensação incômoda que é proporcionada dentro do hotel macabro onde toda uma família tradicional é obrigada a ficar durante uma tempestade neve é uma dessas sensações que ficam com o espectador muito tempo depois de assistir o filme - é claro que o plano era esse. O Iluminado é um primor em todos os quesitos, por mostrar o medo na forma pura dele, sem abusar de sustos e sangue gratuitos como acontece nos filmes hoje em dia - nem O Exorcista conseguiu esse feito, apesar de ser igualmente estupendo como filme de horror. Se não bastasse, contém uma das melhores atuações de Jack Nicholson, e a atriz que fez sua esposa irritante no filme era constantemente pressionada por Kubrick, pois sua atuação não o estava agradando... É Stanley Kubrick chegando perto da perfeição, e como sempre, o mais exigente possível.
Um dos filmes definitivos sobre a Guerra do Vietnã, talvez superior a outro clássico de Francis Ford Coppola, Apolcalypse Now, pelo simples fato de ser mais agradável de ser ver por não ficar abusando de patriotismo. Apesar de ser seu penúltimo filme, esse talvez seja o último grande projeto de Kubrick. Pra começar, o diretor precisa de apenas 5 minutos para fazer uma das melhores primeira-seqüência que poucos filmes se dão o luxo de apresentar. Cenas longas, que nunca são chatas e cansativas de se assistir aqui... São duas histórias interligadas pelo mesmo assunto, a guerra: Um sargento tão severo que se torna engraçado de tão ridículo que é, com seus métodos rígidos de treinamento de jovens soldados, e depois nos é apresentada a história do sargento Joker (Coringa) que cobre a guerra nos campos de batalha em nome de um jornal militar. Tudo recheado de puro humor negro e realismo necessário. É possível perceber uma leve e quase invisível inspiração com O Grande Ditador, de Charles Chaplin...
Essa foi sua despedida do cinema, que ficou um pouco mais triste depois que ele saiu de cena deixando os melhores exemplares do que o cinema é capaz que se tem notícia.De olhos bem fechados, além de ser um fantástico filme conjugal e gostoso de se ver, é completamente feito por metáforas, e contém Tom Cruise e Nicole Kidman em desempenhos notáveis como um casal em crise - ou seria adaptação conjunta? - em uma história de suspense que parece um pesadelo surrealista ( As cores usadas no filme são pensadas para proporcionar isso, em alguns momentos). Uma narrativa episódica, as vezes perturbadora, com muito erotismo nunca tratado com vulgaridade, e sim com elegância e curiosidade pelo diretor - que morreu antes da estréia de sua obra final que, como sempre, foi mal recebida por público e crítica. Poucos o entendiam..

O que se passa dentro da cabeça de um gênio?

Um comentário:

Italo Braga disse...

Sério, sua críticas cinematográficas são fantásticas. Eu simplesmente amo A morte passou por perto e Lolita, até porque eu li o livro e também adorei. Uma adaptação de Kubrick de um livro de Nabokov foi fantástico.
Apesar de muitos aclamarem O iluminado, eu particularmente não gostei tanto. Apesar do livro de Stephen King ser um thriller psicológico bem convincente, mas como o próprio King disse: O iluminado foi a melhor adaptação de um dos seus livros pra o cinema só por causa de Kubrick.
Sério, adorei o blog e suas resenhas.