Não pude deixar de perceber como
o nosso cinema anda evoluindo – não apenas no número de produções anuais, como
também na qualidade das mesmas. Para um país que dá prioridade às novelas e
séries televisivas, isso é um grande presente para os cinéfilos que não perdem
a chance de ver alguma obra filmada em terras tupiniquins no cinema. Mas como a
maior parte da população comenta, nossos roteiristas ainda precisam se
desprender dos velhos e costumeiros temas que nossos filmes retratam,
principalmente as comédias e suas situações constrangedoras sobre a classe média
nacional.
Desenrola é a comédia nacional que eu sempre quis ver. Não dá para
resumi-lo apenas em piadas sobre sexo (como as já citadas comédias sobre a
classe média à la “Se Eu Fosse Você”), tampouco o humor totalmente ingênuo e
propriamente para crianças bem pequenas como os filmes de Xuxa Meneghel e
Renato Aragão.
Não queria conferir este produto
esperando um humor refinado e inteligente, pois isto aqui se trata claramente
de um filme que se limita em agradar ao seu público-alvo (os adolescentes) e, conseqüentemente,
algumas pessoas mais maduras que queiram ver algo leve e descontraído. Visto
sob esses parâmetros, é um grande filme!
Um elenco teen nacional como há
muito tempo eu não via. A protagonista fofíssima conquista o público logo no início
e é impossível não torcer para que ela seja feliz no final. Olívia Torres, surpreendentemente
recém-saída da telenovela Malhação, se sente à vontade em sua personagem, assim
como Lucas Salles, um pouco mais limitado, porém bem, e Daniel Passi – esse o último
o mais fraquinho dos três citados, mas não faz feio na tela.
Um dos grandes feitos do roteiro
é fazer piada com situações comuns e que acontecem o tempo todo, que passam
despercebidas ou são vistas com maus olhos por nós, mas quando adaptado paras
telas fica muito divertido, como ouvir música com fone de ouvido no ônibus e,
distraidamente, cantar em um tom absurdamente alto, incomodando os outros
passageiros.
É comumente interessante ver também
como o filme aborda de maneira otimista e fofa alguns temas corriqueiros da
adolescência, tais como a virgindade, a paixão não-correspondida, o apoio dos
amigos nos momentos de desilusão (e o velho caso de se apaixonar pela melhor
amiga), a coragem necessária para mostrar aos pais que já pode caminhar
sozinho, fofocas e, é claro, a gravidez na adolescência – o assunto que não
podia faltar. É bom conter tantos temas recorrentes dessa fase da vida, pois é
possível para seu público se identificar com o personagem e ver que tudo o que
geralmente ocorre nessa idade é perfeitamente normal. Tudo isso, embora de
maneira superficial, é mostrado com agilidade e ainda deixa espaço de sobra
para o romantismo no desfecho.
O elenco de apoio adulto também não
está lá só para enfeitar, embora apareçam bem pouco e pudessem ter sido mais
aproveitados, não só os atores, como também seus personagens e suas relações
(como o marido e a mulher divorciados que descobrem ainda sentir uma paixão
secreta um pelo outro). Pedro Bial, mesmo aparecendo em uma cena, mostra estar
interpretando si mesmo, o que é bom para alguém que se acha tão intelectual.
A trilha sonora anos 80 compõe
ainda um bom clima de ‘filme adolescente cultural’ (que não contém na trilha
apenas músicas de grande sucesso atual para fazer mais marketing) e transforma
Priscila numa personagem ainda mais interessante e completamente característica
– a garota que vive o presente com muita felicidade, mas não deixa de apreciar
a cultura que as décadas passadas pode proporcionar.
E, por fim, devemos citar a
eficiente Rosane Svartman, que aqui nada faz mais do que um trabalho bem feito
e conduz o filme de modo coerente para o público a quem está destinado.
Este filme não é perfeito. Tem
passagens mal-desenvolvidas? Muito. Seqüências descartáveis? Obviamente.
Piadas que não funcionam? Sem dúvida. Mas, no mais, é um filme cujos pontos
positivos do roteiro sobressaem aos seus furos. Não vai agradar a um público
mais maduro e exigente, pois isto aqui não passa de apenas mais um filme para
os jovens. Mas tentemos enxergar através disto: o universo adolescente é
complexo demais, tanto para se entender quanto para sintetizar em um filme.
Nota: 7.0
Victor Tanaka
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