domingo, 24 de julho de 2011

Dossiê chapliniano - uma análise da carreira de Charles Chaplin


Quando se fala em comédia atualmente, a grande massa pensa em besteiróis americanos ambientados em colegais com piadas de sexo que ocupam 87% do conteúdop do filme ou em comédias românticas pré-moldadas estreladas por Matthew McConaughey, Ashton Kutcher, Jennifer Aniston ou Jennifer Garner. Há quem infelizmente se lembre dos filmes-paródias anuiais de Jason Friedberg e Aaron Seltzer.

Quando dizemos sobre os "gênios da comédia", as opções populares se alteram para Jim Carrey, Adam Sandler e até mesmo os Irmãos Wayans! Mas nenhuma dessas três opções chega à ponta da unha do dedão do pé do maior gênio cômico do cinema.

Este título importantíssimo pertence a Sir Charles Spencer Chaplin, que de 1914 a 1967, fez multidões morrerem de rir nas salas de cinema. Com grandes clássicos idolatrados até hoje e cenas memoráveis, vale a pena dar uma espiadinha por toda a sua carreira, não é?
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Chaplin apronta muito em Carlitos Patinador (1916)
De 1914 a 1923, uma passada bastante superficial: esta é a época em que imperam seus infinitos curtas-metragens. Particularmente, acho que esses curtas de Chaplin não são as melhores escolhas para quem quer apreciar um bom trabalho desta personalidade única. Não sei se Charles Chaplin era um pouco amador no começo da carreira e, com o tempo, foi aperfeiçoando suas técnicas, seu humor e seu brilhantismo ou se ele precisava de uma película de duração longa para nos entregar um trabalho digno de aplausos. Entretanto, sabendo ou não o motivo, devo dizer que os curtas do começo da carreira de Chaplin não merecem - e não recebem, na verdade - tanto reconhecimento quanto seus trabalhos posteriores.

Dos curtas-metragnes do diretor, os que realmente merecem destaque são Carlitos no Teatro (1915), Carlitos Patinador (1916) e Dia do Pagamento (1922) - essa último, talvez seja o único curta com a grandiosidade semelhante aos seus longas-metragens.

Dia do Pagamento (1922)
Em 1918, Chaplin estrelou seu média-metragem Vida de Cachorro, seu primeiro clássico - embora pequeno e nunca lembrado como uma primeira opção, é um inegável clássico. Na época, já famosíssimo por encarnar com perfeição seu personagem icônico Carlitos, o ator-diretor decidiu fazerseu trabalho na companhia de um animal. E que figura melhor para lhe acompanhar durante 40 minutos do que um cachorro abandonado? Durante esse pouco tempo, é impossível não se afeiçoar ao animal e ver como os comportamentos humanos, ilustrados por Carlitos, às vezes se parece com um cachorro de rua. Genial!

Em 1922, o já citado Dia do Pagamento sai do forno. Com as características principais que o personagem adquiriu durante inúmeros pequenos trabalhos, aqui ele sintetiza tudo o que aprendeu e incorporou como marcas de seu trabalho, e esta obra acaba funcionando como uma "conclusão" dos curtas-metragens anteriores (já que foi o penúltimo curta-metragem que Chaplin realizou - o último foi Pastor de Almas) e marcando a transição para seus longas-metragens.

O primeiro longa-metragem, O Garoto, é de 1921 e foi muito aclamado. Levou muita gente a chorar, o que era novo, pois até aquele momento, ele só fazia as pessoas rirem. Vendo que dominava também a arte do drama, dirigiu Casamento ou Luxo em 1923. Este é o único filme de Charles Chaplin - de qualquer duração - que é totalmente drama. E por consequência, ele decidiu não atuar, faqzendo apenas uma figuração como um carregador de malas na estação de trem. A estrela, desta vez, fora Edna Purviance, que sempre era seu par romântico nos curtas-metragens e foi a mulher com quem ele mais trabalhou.
A cena dos pães de "Em Busca do Ouro"

Em Busca do Ouro, de 1925, embora demasiado superestimado, é obviamente uma joia do cinema. Com cenas e elementos memoráveis (com destaque à cena em que Chaplin espeta os pães com dois garfos e os faz dançar), o imortalizou como um dos homens mais brilhantes da sétima arte. Foi um sucesso enorme, sobretudo de crítica, e até hoje é lembrado com excessivo carinho pela maior parte dos cinéfilos. Mal sabiam eles, naquela época, que sua capacidade era capaz de fazer muito mais.

Veio então O Circo (1928), que mesmo não tendo alcançado tanto sucesso como o anterior, é um dos meus três favoritos de Chaplin e ainda hoje um dos mais divertidos. Misturando a já conhecida comédia com toques de drama, percebemos que ele sempre teve uma admiração secreta pela arte circense.

Considerado até hoje como um dos mais lindos realizados, Luzes da Cidade, de 1931, é romântico do começo ao fim. Nem preciso dizer que a cena final também conseguiu arrancar lágrimas. Eu poderia e adoraria dizer que este é o filme mais famoso com a marca Chaplin, mas em 1936, Tempos Modernos veio para ficar. Cenas eternizadas nas telas, humor único e uma ácida crítica à sociedade que funcionam até hoje, é utilizado em escolas e universidades para se estudar o surgimento da chamada produção em massa.

Adenoid Hynkel (à dir.) é sátira de Adolf Hitler
1940 rendeu ao novo filme de Chaplin várias indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator. Perdendo injustamente, O Grande Ditador é sua obra-prima. O filme mais maduro, ousado, inteligente, inovador, engraçado, triste e anti-guerras. Satirizando Adolf Hitler com a maior cara-de-pau, termina esta película com um discurso maravilhoso, e talvez o melhor texto pregando a paz que o mundo já conheceu.

Chaplin se rendeu aos charmes do humor negro em 1947, quando Monsieur Verdoux chegou aos públicos. Alguns cinéfilos dizem não ser tão bom quanto suas obras anteriores, por Chaplin não ter muito jeito para lidar com este tipo de humor (eu sou um deles), mas alguns mais "cults" dizem que este é o ápice de seu talento e intelectualidade. Não querendo entrar em sua vida pessoal, é curioso lembrar que este filme causou sua expulsão dos Estados Unidos, uma vez que os políticos o viam como uma crítica ao capitalismo.

Charles Chaplin determinado a emocionar em "Luzes da Ribalta"
O filme mais sentimental de Charles Chaplin apareceu em 1952. Os que pensavam que ele estava sofrendo uma pequena decadência se surpreenderam com Luzes da Ribalta. Aqui, encarando de frente o gênero drama - o gênero que predomina no filme, embora continue sendo uma comédia dramática -, convidou até o comediante Buster Keaton, que fez muito sucesso durante a década de 1920, para ser seu parceiro no filme. Dois comediantes de idade avançada em um filme divertido e lindíssimo! Quem pode esperar mais alguma coisa?

A despedida das telas ocorre com "Um Rei com Nova York"
O último filme que contava com Chaplin como protagonista, o chamado Um Rei em Nova York (1957), é considerado por muitos atualmente como mais uma rara película de qualidade fraca que ele fez, mas eu discordo totalmente. Seu humor delicioso, um pouco mais cansado aqui, ainda se mostra eficiente e o torna uma ótima despedida das telas.

Chaplin teve sua última aparição nas tela como um figurante de seu último longa-metragem, A Condessa de Hong Kong, onde interpreta um mordomo que trabalha no navio em que se passa o filme e onde estão viajando os protagonistas, encarnados por Marlon Brando e Sophia Loren.

E aqui acaba uma carreira brilhante. Chaplin recebeu apenas um Oscar, durante sua vida. Um Oscar honorário em sua homenagem, mas boatos, vindo de um de seus filhos, dizem que ele usou o prêmio para não deixar a porta bater com o vento. Ele não precisava desse prêmio. Ele não precisou de prêmios para incentivá-lo a continuar trabalhando, pois ele sabia que era brilhante e que viria a, mais tarde, tornar-se um dos maiores ídolos cinematográficos de sempre. Ele fazia rir apenas com seus movimentois e suas faces. Tamanho feito inspira grandes humoristas até hoje. Seu legado ainda encanta e nunca ficará ultrapassado. Charles Chaplin é eterno!


Um comentário:

Rafael W. disse...

Qualquer dia, também faço um especial sobre o Chaplin. O cara era um gênio!

http://cinelupinha.blogspot.com/