quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Análise: Melancolia (Melancholia) (2011)

E se não houvesse o amanhã...

Gostaria de começar minha análise de um jeito pessoal, com licença: Ao sair da sessão de Meia-noite em Paris eu me senti revigorado, mais otimista, mais ambicioso, amando cada vez mais todas as formas de artes que a obra-prima de Woody Allen proporciona, e principalmente o cinema, para mim a maior de todas as artes! Pois ao sair da sessão de Melancolia eu me senti perturbado, nojento, desumano, com vontade de matar e morrer. Se A árvore da vida vai ser, de fato, o melhor filme de 2011, Melancolia é, de longe, o filme mais perturbador do ano – e não estou supondo nada em tom pessoal. É claro, é óbvio que esse filme só poderia ser dirigido por um cineasta.
Lars Von Trier é o novo Stanley Kubrick. Meu Deus, quem sou eu para afirmar algo dessa magnitude, sou apenas um jovem crítico de cinema, porém a minha bagagem sobre essa arte me permite saber o que eu estou afirmando. É só reparar bem que muitas características primárias do mestre são presentes em Von Trier, como a complexidade oculta em seus filmes, ou a genialidade cinematográfica que nós, reles mortais, ficamos observando tentando decifrar, talvez imitar em nossos mais ambiciosos desejos artísticos. É impossível você "gostar" do cinema de Von Trier: Ou você ama e endeusa, ou odeia e enoja. Ele nos obriga a não termos meio-termos com ele. E a cada filme seu, fica cada vez mais complicado dizer algo imparcial, ou seja, que não envolva amor e ódio. Dogville e O anticristo, por exemplo, são filmes que não são fáceis, muito menos agradáveis de ver, mas são hipnotizantes. Isso é o reflexo de um dos diretores mais visionários de hoje em dia.
Melancolia nada mais é, desconstruindo o filme, do que um 2012 SUPER sentimentalista e filosófico. Von Trier faz seu filme catástrofe sem optar pelos clichês do gênero, e sim fazendo com que um gigantesco – e muito bonito – planeta que estava escondido atrás do sol vague de encontro à nossa pequena Terra, colocando toda a vida em risco. As sequências iniciais do filme são impecáveis, filmadas com brilhantismo por câmeras lentas, e nos preparam para todo o ritmo que o filme impregna durante os 136 relativamente longos minutos. Tecnicamente o filme se destaca como um dos mais bonitos do ano, sabendo usar com sabedoria os raros efeitos visuais. Essa é uma das questões chaves para se achar a genialidade do diretor, afinal, onde já se viu, principalmente hoje em dia, um filme sobre o fim do mundo sem explosões e cataclismos? Von Trier está 100% no controle, ele sabe ser original, sabe nos impressionar com o seu estilo extremamente pessimista com o ser humano. Para ele, se os personagens têm que sofrer muito, nós temos que sofrer com eles. E ele consegue nos deixar à flor da pele, muito depois do final do filme.
Não diria que o roteiro é banal e previsível, porque se o diretor é estranho o roteiro também é, por excelência. Para os mais entendidos em cinema, é fácil fazer um paralelo com o jeito de contar histórias de Antonioni, por exemplo, que nos deixava tentando entender um filme aparentemente complexo quando tudo era tão óbvio, desde o início. O filme é ancorado com uma trilha sonora poderosa, e belíssimas atuações, isso é inquestionável (Vai ser difícil negar indicações ao Oscar para Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg). Talvez seja por culpa dos atores, que souberam entender tão bem seus personagens, talvez pela direção de Lars Von Trier que soube domar tão bem sua obra, o fato é que Melancolia é um amontoado de metáforas sobre o início de uma grande relação – o casamento – e ao mesmo tempo o final de grandes relações – no caso, o apocalipse. E que pode fazer, facilmente, com que pessoas fracas saiam tremendo da sessão de cinema devido ao impacto do filme. No caso, eu, e talvez você.
Nota: 8,5

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito deste filme - além disso, achei as cenas artísticas, com orquestra e fenomenos da natureza, bem parecidas com as de "A arvore da vida", embora neste ultimo tenha havido uma maior abordagem da vida em si - voce pode perceber isso com as cenas de dinossauros e seres pré-historicos. Mas, no geral, achei que "Melancolia" se deu melhor do que "A Arvore da Vida". Nao sei se é porque eu nao tinha esperança nenhuma em "Melancolia" e estava querendo assistir "A arvore da vida" há dois meses, mas Melancolia foi um dos melhores filmes que eu já assisti, especialmente quando se trata de filmes recentes. Pois, recentemente, cinema virou marketing e entreiterimento, sem base filósofica nem nada do tipo. Ao assistir este filme, por exemplo, fiquei grata por encontrar exceções à essa tendecia.