por Victor Tanaka
Mesmo
depois do sucesso estrondoso de público e crítica que Ben-Hur recebeu em
1959 – e que até hoje arranca aplausos e elogios da maior parte dos cinéfilos
do mundo inteiro -, ninguém imaginou que a obra-prima daquele diretor ainda
estaria por vir. Os méritos de Infâmia vão além de ser o melhor filme de
William Wyler. Ele consegue se consolidar como uma das pérolas mais instigantes
do cinema, cujo dramalhão funciona como jamais visto em outra película
cinematográfica, mesmo com a pouca popularidade que possui.
O
filme que relata o caso de duas jovens professoras que caem na boca do povo quando
uma calúnia, espalhada por uma garota rebelde, de que as moças estavam tendo um
caso homossexual, já possui um roteiro chamativo, e na hora do “vamos ver”, não
decepciona. Deixa o espectador em um estado de hipnose durante toda a duração.
É um baita de um roteiro, com cenas fortes e passagens aterradoras em uma
velocidade quase contraditória. Ao mesmo tempo em que parece ser conduzido por
Wyler sem pressa alguma, também assume um ritmo frenético e com uma tensão
constantemente crescente. É inexplicável ver como as cenas iniciais, tão
bobinhas e inocentes, conseguem ser levadas a um desfecho tão psicologicamente
devastador.
O
que mais chama a atenção aqui é a fotografia sombreada esplendorosa. Quanto
mais as duas personagens se afundam em seus problemas e na procura de uma
solução, mais escuros ficam os cenários, até elas encontrarem-se em um breu
completamente caótico, representando claramente as mentes desesperadas da dupla
protagonista.
As
atuações são outro ponto alto. Audrey Hepburn abandona seu perfil de moça
delicada, apaixonada e alegre e mostra que também possui cacife para estrelar
um dramalhão desses sem encarnar uma personagem irritante ou superficial. E
Shirley MacLaine, no auge da sua época dourada – anos mais tarde, ela viria a
se render a comédias românticas e dramas leves com clima de Sessão da Tarde -,
ocupa a cadeira de melhor atriz do filme. Essas duas performances brilhantes
acentuam o efeito de angústia que o filme transmite com facilidade.
O
tom novelesco que a história incorpora não atrapalha o andamento do filme em
seu resultado final e tampouco incomoda aqueles espectadores mais exigentes que
vêem como defeito a linguagem cinematográfica tomar uma forma parecida com
outra arte – quando define um filme, por exemplo, como “teatro encenado” ou
“novela mexicana”. Em certos momentos, é percebível uma semelhança entre esses
conceitos, mas o clima pesado e a atmosfera angustiante que carregam o filme,
assim como o drama que funciona sem soar exagerado – o que folhetins nacionais
televisivos quase nunca conseguem -, mostram que Infâmia é muito mais que isso.
O tom novelesco é apenas uma característica que termina de compor o charme
dessa obra melancólica.
Claro,
eu não poderia fechar esse texto sem comentar a figura de Karin Blakin aqui, a
vilã mirim mais podre do universo cinematográfico. Toda a sua birra e seu
comportamento mimado deixam sim o público irritado, cumprindo bem o seu papel
de ser uma personagem para lá de detestável.
A fofoca,
as conseqüências causadas pela mentira, o desespero, a busca incessante para
uma solução, a reta final para escapar de todos os problemas, todos os temas
são tratados com maestria por esse filme excepcional e interessante, que ainda
consegue impor uma lição de moral implicitamente. E aí? O que mais um drama
precisa para ser reverenciado?
Nota: 10.0
Infâmia (The Cildren's Hour, 1961) é dirigido por William Wyler e estrelado por Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Miriam Hopkins, Fay Bainter, Karen Balkin e Veronia Cartwright. O roteiro de John Michael Hayes foi baseado na peça teatral de Lillian Hellman. Possui 107 minutos de duração e recebeu 5 indicações ao Oscar, não vencendo nenhuma (Fay Bainter em Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Som, Melhor Fotografia em Preto e Branco, Melhor Direção de Arte em Preto e Branco e Melhor Figurino em Preto e Branco).
Um comentário:
É UM FILME QUE AO TERMINAR, VOCE SENTE UM ARREPIO E DIZ: QUE FILME! É INTERESSANTE VER CRIANÇAS MÁS NO CINEMA E ESSA GAROTINHA KAREN, É PRA LÁ DE CONVICENTE! PENA QUE NO BRASIL, VÁ LÁ SABER POR QUE CARGAS D´AGUA, CRIANÇAS VILÃS NUNCA EXISTEM E QUANDO APARECE, SÃO CENSURADAS.
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