quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Crítica: Infâmia (The children's Hour, 1961)

por Victor Tanaka

Mesmo depois do sucesso estrondoso de público e crítica que Ben-Hur recebeu em 1959 – e que até hoje arranca aplausos e elogios da maior parte dos cinéfilos do mundo inteiro -, ninguém imaginou que a obra-prima daquele diretor ainda estaria por vir. Os méritos de Infâmia vão além de ser o melhor filme de William Wyler. Ele consegue se consolidar como uma das pérolas mais instigantes do cinema, cujo dramalhão funciona como jamais visto em outra película cinematográfica, mesmo com a pouca popularidade que possui.

O filme que relata o caso de duas jovens professoras que caem na boca do povo quando uma calúnia, espalhada por uma garota rebelde, de que as moças estavam tendo um caso homossexual, já possui um roteiro chamativo, e na hora do “vamos ver”, não decepciona. Deixa o espectador em um estado de hipnose durante toda a duração. É um baita de um roteiro, com cenas fortes e passagens aterradoras em uma velocidade quase contraditória. Ao mesmo tempo em que parece ser conduzido por Wyler sem pressa alguma, também assume um ritmo frenético e com uma tensão constantemente crescente. É inexplicável ver como as cenas iniciais, tão bobinhas e inocentes, conseguem ser levadas a um desfecho tão psicologicamente devastador.

O que mais chama a atenção aqui é a fotografia sombreada esplendorosa. Quanto mais as duas personagens se afundam em seus problemas e na procura de uma solução, mais escuros ficam os cenários, até elas encontrarem-se em um breu completamente caótico, representando claramente as mentes desesperadas da dupla protagonista.

As atuações são outro ponto alto. Audrey Hepburn abandona seu perfil de moça delicada, apaixonada e alegre e mostra que também possui cacife para estrelar um dramalhão desses sem encarnar uma personagem irritante ou superficial. E Shirley MacLaine, no auge da sua época dourada – anos mais tarde, ela viria a se render a comédias românticas e dramas leves com clima de Sessão da Tarde -, ocupa a cadeira de melhor atriz do filme. Essas duas performances brilhantes acentuam o efeito de angústia que o filme transmite com facilidade.

O tom novelesco que a história incorpora não atrapalha o andamento do filme em seu resultado final e tampouco incomoda aqueles espectadores mais exigentes que vêem como defeito a linguagem cinematográfica tomar uma forma parecida com outra arte – quando define um filme, por exemplo, como “teatro encenado” ou “novela mexicana”. Em certos momentos, é percebível uma semelhança entre esses conceitos, mas o clima pesado e a atmosfera angustiante que carregam o filme, assim como o drama que funciona sem soar exagerado – o que folhetins nacionais televisivos quase nunca conseguem -, mostram que Infâmia é muito mais que isso. O tom novelesco é apenas uma característica que termina de compor o charme dessa obra melancólica.

Claro, eu não poderia fechar esse texto sem comentar a figura de Karin Blakin aqui, a vilã mirim mais podre do universo cinematográfico. Toda a sua birra e seu comportamento mimado deixam sim o público irritado, cumprindo bem o seu papel de ser uma personagem para lá de detestável.


A fofoca, as conseqüências causadas pela mentira, o desespero, a busca incessante para uma solução, a reta final para escapar de todos os problemas, todos os temas são tratados com maestria por esse filme excepcional e interessante, que ainda consegue impor uma lição de moral implicitamente. E aí? O que mais um drama precisa para ser reverenciado?
Nota: 10.0

Infâmia (The Cildren's Hour, 1961) é dirigido por William Wyler e estrelado por Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Miriam Hopkins, Fay Bainter, Karen Balkin e Veronia Cartwright. O roteiro de John Michael Hayes foi baseado na peça teatral de Lillian Hellman. Possui 107 minutos de duração e recebeu 5 indicações ao Oscar, não vencendo nenhuma (Fay Bainter em Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Som, Melhor Fotografia em Preto e Branco, Melhor Direção de Arte em Preto e Branco e Melhor Figurino em Preto e Branco).

Um comentário:

FERNANDO disse...

É UM FILME QUE AO TERMINAR, VOCE SENTE UM ARREPIO E DIZ: QUE FILME! É INTERESSANTE VER CRIANÇAS MÁS NO CINEMA E ESSA GAROTINHA KAREN, É PRA LÁ DE CONVICENTE! PENA QUE NO BRASIL, VÁ LÁ SABER POR QUE CARGAS D´AGUA, CRIANÇAS VILÃS NUNCA EXISTEM E QUANDO APARECE, SÃO CENSURADAS.