terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Cisne negro (BLACK SWAN) (2010)



"Dentro de um corpo de um frágil e belo cisne branco, uma garota pura e inocente precisa de um beijo sincero para ganhar sua liberdade, outrora em forma humana e interrompida por um feitiço. Mas um frágil e belo cisne negro rouba antes a prova desse amor verdadeiro, obrigando o cisne branco a não ter outra opção na vida do que abrir suas asas e se jogar de um penhasco, ambos encontrando a liberdade..."

Ao adaptar, ou melhor, transfigurar esse conto para os dias atuais, o diretor americano Darren Aronofsky utiliza tudo de melhor que já foi testado e aprovado previamente em seu cinema: O estilo “câmera na mão” de O lutador, os delírios bem-vindos de Fonte da vida e o gigante Requiém para um sonho, e principalmente os artifícios de uma história quase esquizofrênica como a de Pi, o primeiro projeto de Aronofsky a ganhar reconhecimento. O diretor junta todos os ótimos artifícios anteriores e entrega Cisne negro em um mundo onde o que impera é a competitividade, a arrogância, os sacrifícios, as incertezas e as sapatilhas: O balé! E o resultado não poderia ser mais afetado positivamente, pelo menos na tela e nos curtos 108 minutos que não te deixam desgrudar a atenção. Na verdade, Cisne negro existe por vários motivos...

De onde surge o sucesso, quer dizer, qual o principal ímpeto para ele vir á tona em alguém? É o resultado da vontade de se superar, de provar, de acreditar em um sonho que só essa pessoa ainda acredita, e quando seria à hora de parar e aceitar a própria derrota e a certeza de que esse alguém caiu? De repente, chega uma hora em que já é tarde demais para parar, ou se arrepender, e o orgulho ajuda a enterrar uma perspectiva tão sólida, no final das contas. Mundo injusto... Mas o fracasso pode se infiltrar no coração para que o sucesso seja imposto sobre esse medo da derrota. Medo de não saber o que é ficção na vida real, de fazer os holofotes fazerem injustiça ao virarem para outro alguém que você queria ser.

A bailarina Nina compartilha essa mesma idéia, mas quem pode julgar alguém assim que não é amiga dela mesma? Que não se priva do trabalho e prefere ver os pés sangrando a descansar e perder a madrugada dormindo. A mente é realmente um brinquedo perigoso... Aronofsky cria um quebra cabeça tão complexo escrito por Mark Heyman, Andres Heinz e John McLaughlin que o único adjetivo que me vem à cabeça é psicodélico! Cortesia de três pontos chave: Direção, história e a protagonista, a atriz de 2011.

A seqüência inicial nos dá certeza do que vem pela frente... Natalie Portman não está tão bem em um papel desde Closer-Perto demais, ao contrário, ela está superior. E linda! A atriz consegue traduzir a fragilidade e a insegurança da personagem atormentada pelo medo do fracasso de uma forma impecável e perfeita como as coreografias dos balés clássicos que ela encena com tanto sacrifício. A bailarina se pergunta através de seus olhares íntimos, até que ponto o lado pessoal e profissional podem ficar juntos no modo pacífico, claro, e principalmente: O que fazer quando eles se fundem e flutuam de um jeito ameaçador ao redor. Um medo silencioso, como uma pluma deslizando em um ar sufocante! Pra onde vai e da onde ela veio confirma que nós definitivamente não somos dono do filme, que estamos numa visita perigosa pelos corredores do mundo do balé de NY e tudo pode ser só uma vertigem! Ou não. Cisne negro é elegante e brutal ao mesmo tempo, e usa de uma forma genial toda a previsibilidade da história baseada no conto dos cisnes, indo além com sua trilha sonora. Quando quer impressionar ou causar tensão consegue, e a trilha sonora potencializa tais atos. Clint Mansell já trabalhou antes três vezes com Aronofsky, e dessa vez Clint usa o previsível da música clássica de um jeito que agrada os ouvidos iniciantes e experientes no gênero, afinal, não poderia ser outro estilo!

Por Cisne negro ser uma história mais de personagens, o sarcasmo explícito faz falta onde poderia ser aplicado em algumas situações, mas não compromete de jeito nenhum o produto final. Talvez o sarcasmo se faça presente nas próprias escolhas destes personagens que nós, a platéia, nos identificamos tanto até certo ponto. Aqui tudo é contado com calma, e evidenciando o clima de uma peça teatral formada com o já citado estilo “câmera na mão” do diretor. A parte técnica de Cisne negro, pessoalmente supera à de Fonte da vida, mas não supera a essência duvidosa e inquieta da história, no bom sentido. Em termos atuais, o filme lembra um pouco O diabo veste Prada pela história retratar de forma fiel e lírica o mundo na qual está inserida, respeitando as limitações e sempre ousando ao procurar algo novo (Algo que O diabo veste Prada ensaiou, e Cisne negro apresenta). Ambas são homenagens aos seus mundos, uma á moda e outra ao balé, e se completam, mas não se igualam em qualidade.

Há exageros dispensáveis, principalmente na parte técnica em algumas cenas de conflito. Na verdade, Cisne negro existe por vários motivos... Para provar pra quem quiser que Natalie Portman não é só um rostinho bonitinho mas é uma atriz magistral, provavelmente no seu grande papel da carreira, para provar também que grandes idéias ainda estão dormindo nas gavetas dos executivos de Hollywood esperando só um sinal verde, e como Darren Aronofsky consegue ativar sentimentos em nós que só podemos sentir e são além do que os que são vistos na tela, e desesperar quem ainda acha que ele não é um dos melhores diretores da nova geração.

Psicodélico.

NOTA: 9/10

Obs 1: O trailer estragou algumas das surpresas bacanas que poderiam acontecer, uma pena!

Obs 2: Só eu vejo um paralelo entre o cinema do Darren Aronofsky e o do Christopher Nolan?

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