domingo, 13 de novembro de 2011

Análise: O Palhaço (2011)

Eu acho e quero ter a certeza (E tenho certeza que você também quer acreditar) que os dias obscuros para o cinema nacional já se foram, e nunca mais irão voltar. Não há um forte motivo atualmente para isso voltar a acontecer, pelo menos. Mesmo assim, se esse fenômeno se repetir, o cinema brasileiro estará mais forte, com novas armas e um público cada vez maior e mais fiel.


Uma novidade: Filmes como Se Eu Fosse Você e Tropa de Elite (e suas continuações) possuem várias e nítidas diferenças, porém foram determinantes para alavancar o público Brasileiro em produções brasileiras. A platéia gostou de rir com as trapalhadas de Tony Ramos, e gostou de falar os bordões do filme de Padilha. Nesse quesito, o grande público de cinema não é muito diferente da maioria dos que freqüentam circos: Só querem sair da dura realidade. Foi então que todos perceberam que, se seguirem essa regra em prol da cultura e retorno financeiro, o cinema do Brasil estará salvo, bem amparado. Pois bem, após tantas e inúteis novidades, eis uma genuína: O Palhaço é o ápice disso, o fruto de uma colheita de longa germinação.
A questão é incrível: Há dez anos, ninguém poderia prever o avanço em todos os sentidos das produções feitas no Brasil, alcançando reconhecimento internacional e, principalmente, por parte do próprio povo que o paga para assistir – independente da razão. Selton Mello também evoluiu muito de Feliz Natal para cá, poucos anos desde sua estréia no comando de uma obra. Evoluiu na frente e atrás das câmeras. Sendo assim, fez em 2011 o filme que faltava ao cinema desse ano: Um frescor de sinceridade, honestidade. Um gosto do que o Brasil tem de melhor a oferecer, desde a humildade e inocência do seu povo mais pobre, até algo mais relevante, como as estradas de terra esburacadas que o circo Esperança avança com sua trupe, nos cafundós desse país continental embalado com muita música regional. O nome da atração em contraponto dos verdadeiros sentimentos dos personagens é uma das várias ironias do filme (algumas hilárias, outras nem tanto).

A história é um road-movie delicioso de se acompanhar, exigindo da platéia algo que os sisudos e esnobes não entendem: O ato de rir, entretenimento quase sem compromisso. Em poucos momentos a leve sensação de pretensão ou subjetividade floresce, apenas quando é logicamente necessário, e é exatamente quando você pensa que O Palhaço não está te guiando para lugar nenhum, é preciso se emocionar com algo nem sempre gratuito, que surge de um jeito suave imposto, acima de tudo, pela bela fotografia que dá o tom. Esta expõe as cores e texturas do alegre e quente picadeiro, dos tristes arredores do circo, dos figurinos, e até da maquiagem simples que usa o personagem de Selton Mello, Benjamin, para tentar disfarçar seu verdadeiro eu de quem ele se esforça para fazer rir. Até que ponto é possível disfarçar a alegria, ou ainda, disfarçar o que nós realmente queremos em prol da alegria alheia? É algo a ser refletido – dentro e fora da arte.

Ainda não dá pra se ter um panorama do que é o cinema de Selton Mello, qual o seu estilo de direção, etc. Porém é explícito o tipo de conflitos psicológicos similares que ele escolhe para seus personagens principais enfrentarem: A falta de estabilidade pessoal, insegurança e deslocamento em torno do seu meio-ambiente diário. Isso se torna um problema em O Palhaço, pois Benjamin, o palhaço melancólico não consegue ter o carisma merecido, nem mesmo se destacar em meio as mais do que especiais participações de consagrados artistas Brasileiros, assim como os espetaculares Jorge Loredo, o eterno Zé Bonitinho, e Tonico Pereira (sempre inegavelmente excepcional, um ator nota 11), sem contar várias outras participações de artistas que poderiam ter maior tempo na tela, mas talvez em prol da boa fluidez da história, ou para não ofuscarem o brilho opaco do protagonista, foram deixados de lado. A montagem, portanto, beneficia alguns raros momentos completamente esquecíveis, superficiais e de quase nula identificação, apenas para o protagonista e toda a trupe do circo “evoluírem” no enredo de agradabilíssimo contexto circense. Um filme realmente sensorial, o maior trunfo da obra.

Wagner Moura, Lázaro Ramos e Selton Mello são três atores que ainda vão dar muito orgulho a todos os brasileiros, grandes artistas que já provaram que vieram para ficar, pertencentes à nova safra de um cinema ousado (como deve continuar sendo) que aposta em contar histórias sinceras, honestas, para um público também extremamente sincero e honesto, que deixa claro se gostou ou não do que viu através da bilheteria. E nesse momento, não vejo melhor exemplo disso em 2011 do que O Palhaço.

NOTA: 8,5

Um comentário:

SCB disse...

Bela percepção! Realmente aqui em São Paulo, na semana que se iniciou em 5 de novembro, haviam 21 filmes brasileiros em cartaz, contra 20 norte americanos. Porém, o número de salas e os horários que exibiam os gringos ainda era muito superior. Mas vamu qui vamu.

Abs.
Wagner Woelke