quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Simplesmente Feliz (2008)


O que importa é ser feliz.


Poucos filmes sabem retratar atualmente uma boa história sobre a felicidade. O que é esta coisa misteriosa que todos falam? O que é “ser feliz”? O que nos faz feliz? Mas poucos se lembram, por exemplo, que a felicidade depende de cada pessoa. Há alguns só seriam felizes se ganhassem na loteria; outros, se fossem atores famosíssimos de Hollywood; outros, se a pessoa que mais amam se apaixonassem por eles. E há aqueles que captam o sentido real da ‘felicidade’ e se sentem felizes com coisas pequenas, como caminhar a pé para casa e pegar chuva no caminho, tendo que correr e se molhando todo; olhar para o céu e tentar contar as estrelas; queimar todos os cadernos da escola quando receber a notícia de que passou de ano; espirrar; ou enfiar a mão em um saco cheio de grãos, como mostrado em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Logo, cada um se sente feliz com um elemento ou um gesto diferente.

A felicidade é misteriosa. Para alguns, ela praticamente não existe. Para outros, ela está presente em todo lugar. Tem aqueles que se consideram infelizes, desgraçados, condenados à sofrer; e outros se consideram muito felizes, de bem com a vida otimistas. A segunda opção define bem Pauline (mais conhecida como “Poppy”), a protagonista de Simplesmente Feliz.

Este filme, de Mike Leigh e com Sally Hawkins na pele da personagem principal é, em minha opinião, um filme que retrata a felicidade de maneira graciosa, divertida e bem exagerada, com toques de genialidade no roteiro e complexidade. Mas também é um filme muito incompreendido, e vou explicar isso logo. Eu tenho milhares de argumentos para apresentar sobre o roteiro, então dividirei em alguns parágrafos, e depois falarei o resto.


Em resumo, é um filme fascinante em cada detalhe.

HISTÓRIA E ROTEIRO

A história é bem simples e básica. Poppy é uma professora do primário excessivamente feliz. Ela ri de tudo, acha tudo engraçado e vê otimismo em tudo o que acontece. Nada a abala. Durante o filme, vemos o jeito como ela tenta lidar cada situação, como uma aula de flamenco com uma professora desequilibrada, uma conversa com um bêbado maluco, uma pequena discussão com sua irmã paranoica, e até tentar ajudar um aluno seu que está com problemas na família. Esses e outros acontecimentos recheiam todo o filme, porém o mais importante e que faz a vida dela ficar mais confusa ainda são suas aulas de direção com um professor bem mal-humorado, que é totalmente o oposto dela. Para muitos, o humor do filme vai soar um pouco distante, até porque as piadas não são entregues todas mastigadinhas como muitos filmes fazem. São piadas inteligentes.

O roteiro é divertidíssimo e cativante e nos deixa animado a cada cena. Além disso, é CLARA e OBVIAMENTE possível perceber todo um conflito interno entre os personagens e as cenas que NÃO SÃO mostradas explicitamente no filme. Logo, nos levando a pensar. Mas o que torna tudo mais genial são os diálogos. A personagem principal usa e abusa do sarcasmo, fala coisas sem sentido, faz piada de tudo, e tudo o que sai de sua mente feliz. Por exemplo, os brilhantes momentos das aulas de direção são maravilhosos, devido à conversação entre os dois personagens opostos – Poppy e seu professor Scott (interpretado por Eddie Marsan).

Já ouvi gente reclamar de muita coisa desse roteiro. Uma delas é porque não há foco em nenhum desses acontecimentos mostrados no filme. Há um maior destaque nas cenas das aulas de direção – como eu já disse -, mas o roteiro não foca totalmente nele. Em resumo, não há uma trama definida. Mas, por acaso, a vida de uma pessoa foca em apenas em UM problema? Apenas em UMA situação? Essa técnica de não dar foco a nada é apenas uma ótima interpretação da vida. O filme quer passar ao espectador TUDO o que acontece com ela, os momentos bons e ruins, para fazer-nos pensar sobre aquela enigmática personagem. O que faríamos no lugar dela? E por quê? Mas muitos espectadores não estão acostumados com isso.

Muitos também reclamam que, no fim, muitos desses problemas citados acabam não sendo resolvidos, e continuam como está – e, ao iniciar dos créditos finais, chegamos ao ponto inicial novamente, sem nada ter mudado. Pois foi como eu disse no parágrafo anterior. Além disso, se nós conseguíssemos resolver TODOS os nossos problemas, não haveria infelicidade e tristeza no mundo. A não ser que alguém goste de ter problemas, mas não é muito comum achar alguém assim. Aí está o maior problema do filme: as pessoas têm preguiça de tentar interpretá-lo.

E no fim do filme surgem as dúvidas: mas afinal, o que Scott sentia por Poppy? E, claro, muitas dúvidas sobre passagens do filme aparentemente inúteis, mas que contribuem para o resultado final.

A PERSONAGEM

Vamos falar agora de um assunto tenso. É o principal elemento do filme que faz as pessoas odiá-lo ou adorá-lo: a Poppy. Ela é irritante, ela é tosca, ela é chata e exagerada. Mas comigo ela não pareceu nada disso. Para mim, Poppy soou como uma personagem muitíssimo bem-construído, demasiadamente carismática… e feliz. E, é claro, enigmática. E sabem por quê? Bom… reclamam que a moça é insuportável, escandalosa demais e metida a inteligente. Sim, ela é tudo isso (exceto para mim), mas é aí que entra a parte da complexidade já citada.

Toda essa alegria, todo esse otimismo extremo, toda essa suposta felicidade é o que estamos vendo por fora dela. Mas em muitas cenas, podemos ver a Poppy pensativa, com uma feição triste, sem saber o que fazer. Logo, abre-se um leque de possibilidades e hipóteses para entender sua personalidade. Será que ela é mesmo feliz? Afinal, estamos vendo essa felicidade explícita dela, mas não conseguimos enxergar por dentro dela, o que ela está realmente sentindo. E se essa felicidade é apenas para mascarar uma profunda tristeza? E se esse otimismo é resultado de um trauma enorme que ela sofreu no passado? E outras quase infinitas idéias que surgem enquanto pensamos.Afinal, o que ela esconde?


A personagem é o elemento mais incompreendido do filme, pois a maioria das pessoas tem preguiça de tentar entender sua alma, de tentar entender seus atos, de tentar entender a ela e a todo o resto do filme. Logo, é um filme mal-incompreendido e mal-interpretado pela massa geralmente por isso. Por não revelar a verdade sobre tudo, tentando fazer-nos mentalizar e refletir.

Afinal, a felicidade é misteriosa e nós nunca a entendemos por completo. O filme também não.
E eu simplesmente AMO A POPPY! Ela é um exemplo de vida, e mesmo não sabendo quem ela é verdade, sempre nos lembra de que tudo rem um lado bom e tudo tem motivos para sorrir.

ATUAÇÕES

Muitos vão querer me matar agora ou, quem não está perto de mim neste momento, simplesmente vai parar de ler a crítica e falar muito mal de mim na Internet, me ofender em um site de cinema ou me xingar muito no Twitter, mas para mim, a atuação de Sally Hawkins foi a melhor da década de 2000 inteira! Não, sua performance não está exagerada e caricata. A personagem simplesmente é assim, e Sally deu vida à esta com maestria e perfeição. Ela consegue sintetizar toda a essência do filme e nos entregar uma atuação simplesmente… feliz.

Eddie Marsan também está bom, e consegue também cumprir seu objetivo de interpretar exatamente ao contrário de Sally Hawkins. Os dois não se combinam – o que é o certo. Alexis Zegerman, no papel de Zoe (a moça que divide o apartamento com Poppy) está um pouco mais fraca que o casal citado, mas é bem simpática também. Os outros nomes desconhecidos do elenco estão razoáveis.

PARTE SONORA E VISUAL

O filme tem uma parte técnica bem agradável e simpática. A trilha sonora é animada – não teria como não ser – e adorável. Não é uma daquelas que gruda, mas provavelmente não passa despercebida cada vez que é executada na película durante a exibição. Foi até emocionante vê-la sendo tocada quando anunciaram a vitória de Sally Hawkins no Globo de Ouro por sua atuação neste filme.

E a parte visual também é bonita. É um tanto colorida, dando uma aparência mais alegre ainda… E tem mesmo uma ótima fotografia.

CONCLUINDO...

A direção de Leigh é ótima. Ele consegue conduzir seu roteiro como ninguém. Tenho quase certeza que, durante todo o filme, ele esfrega as respostas para todas as nossas dúvidas na nossa cara, mas não conseguimos enxergar porque… Oras, porque não.

Bom, espero que tenham entendido meu ponto de vista (ou pelo menos “tentado”) e não queiram me linchar se me encontrarem por aí. Afinal, a vida não é mesmo muito enigmática, assim como a felicidade. E o filme retrata perfeitamente, deixando muitas portas abertas e nos deixando livres a tentar descobrir o real sentido do filme ou criar uma hipótese e acreditar nela até o fim (isso pode incluir a hipótese de que a Poppy é louca e o filme é um lixo, entre outras – e isso depende de cada um). Logo, o filme merecia ser adorado por grande parte da população principalmente por…

































Bom, como podemos perceber, o filme não mostra a conclusão de tudo. Afinal, a história não acaba depois que o filme termina. Ela continua, porém não podemos acompanhar até o fim. E nós tiramos nossas conclusões sobre o que vimos. Para combinar com o filme, farei o mesmo com essa crítica, porém aqui não é difícil chegar à conclusão exata de tudo.

NOTA: 10.0

Poppy e Zoe


Um comentário:

Rafael W. disse...

Muito simpático, mas não passa disso.

http://cinelupinha.blogspot.com/